O Museu da Marioneta apresenta, de 25 de Julho a 21 de Outubro, a exposição Teatros de Java: jóias, batiks e marionetas da coleção Francisco Capelo. O conjunto de peças expostas permite uma verdadeira viagem a esta arte ancestral da Indonésia que reflete também a cultura do país. As máscaras e as marionetas representam personagens presentes na mitologia, na literatura e na história de Java apresentando-nos monstros, demónios, príncipes ou guerreiros, cada um com as suas características físicas muito próprias, mas carregados de uma expressividade rara de ver noutras formas de arte. As jóias, usadas no teatro dito “humano”, são objetos estilizados e trabalhados ao mínimo pormenor e repetem um conjunto de códigos, também presentes nas marionetas, assegurando desta forma a identificação das personagens. Os tecidos, estampados pela tradicional técnica de batik, são também usados pelos atores, embora tanto o padrão como a forma de os dobrar obedeça a regras muito específicas consoante o tipo de personagem que os utiliza.
O reportório do teatro javanês baseia-se tanto nos poemas épicos Maharabata e Ramayana como nos contos do ciclo Panji e noutros de origem islâmica. As formas como estas histórias são apresentadas variam: teatro de marionetas, atores ou máscaras – e são esses os vários elementos que podemos encontrar nesta exposição, para além de fotografias ilustrativas destas performances.
Na Indonésia, o teatro divide-se em performances wayang wong, wayang kulit, wayang golek e wayang topeng. A palavra wayang vem da aglutinação de yang, que significa ancestrais ou divindades, e bayang, que significa sombra. A veneração dos antepassados e a proteção dos deuses são temas recorrentes da tradição wayang. Por isso, as performances funcionam também como uma espécie de ritual através do qual toda a comunidade fica protegida.
O wayang wong, teatro “humano” é uma das formas mais arcaicas de teatro na Indonésia em que os atores/dançarinos se apresentam vestidos de sarong (o traje tradicional javanês) e ricamente ornamentados de jóias. Tanto a forma de movimento como o tipo de tecido usado no traje tem profundo significado conforme o tipo de história e da personagem.
Wayang kulit é a forma mais antiga de teatro de marionetas na Indonésia, tendo provavelmente surgido no século IX d. C. O dalang é a figura principal que manipula as marionetas e dirige o espetáculo.
Há toda uma iconografia que permite distinguir as personagens umas das outras, tanto através da estrutura corporal, a fisionomia da face ou as cores utilizadas. A presença desta arte no quotidiano das cortes está devidamente documentada por inscrições datadas do século IX. O teatro de marionetas de sombra foi fonte de inspiração para a representação humana e divina nos muitos e magníficos monumentos de Java e continua a influenciar as artes dos têxteis e dos metais.
Já a arte das marionetas wayang golek está habitualmente associada aos Santos do Islão, que decorrer dos séculos XIV e XV, desempenharam um papel essencial na expansão desta religião em Java, tradicionalmente de cultura hindu e animista.
A tradição do wayang topeng, literalmente “dança com máscaras”, data de finais do séc. XV e foi praticada e refinada nas cortes principescas da costa norte, principalmente em Cirebon, mas também no centro de Java.
A coleção Francisco Capelo, para além de estar representada na exposição permanente do Museu, tem sido a vir apresentada em mostras anteriores como: “O Regresso dos Animais: máscaras e marionetas do Mali” (2008) e “Marionetas de Sombra do Sul da Índia” (2008) e “Nagadama: Máscaras e marionetas do Sri Lanka” (2009).